Relação entre Evidenciação Contábil dos Investimentos Públicos e Assimetria Informacional

Leonardo Silveira do Nascimento, Sérgio Pereira do Espírito Santo, Ernesto Fernando Rodrigues Vicente

Resumo


No Brasil nem sempre os demonstrativos contábeis governamentais apresentam informações compreensíveis aos usuários, gerando assimetria informacional, na qual o agente (Governo) possui informações privilegiadas em relação ao principal (cidadão). A Contabilidade Governamental brasileira está distanciada dos princípios e normas contábeis geralmente aceitos devido ao enfoque no orçamento público e na execução em detrimento da contabilização integral do patrimônio público. O objetivo deste artigo é demonstrar e mensurar de que maneira as informações contidas nos demonstrativos contábeis da esfera federal brasileira, relacionadas aos investimentos públicos, confirmam a existência da assimetria informacional entre o principal e o agente. Foram analisados os demonstrativos que compõem o Balanço Geral da União, o Relatório Resumido da Execução Orçamentária e os dados do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (SIAFI) nos exercícios de 1995 a 2009. Buscou-se apurar o valor que deveria ser evidenciado segundo os princípios e práticas contábeis geralmente aceitos e normas de Contabilidade Aplicada ao Setor Público e compará-lo com o valor apresentado nos demonstrativos oficiais. Os resultados apontam que a assimetria, medida com base nas diferenças apuradas, alcançou o valor médio de R$ 4,71 bilhões (cerca de 0,2 % do PIB) no período analisado. No caso dos investimentos, essa assimetria é agravada pelo fato de que o IBGE utiliza os dados dos balanços publicados segundo as regras atuais para mensurar a Formação Bruta de Capital Fixo, o que acaba contaminando a contabilização dos agregados econômicos nas contas nacionais, as quais são largamente utilizadas como parâmetro na condução da política macroeconômica.

Palavras-chave


Evidenciação, Assimetria informacional

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