INFLUÊNCIAS INTERGERACIONAIS NO CONSUMO DE COSMÉTICOS AFROS POR MULHERES AUTODECLARADAS NEGRAS

Matheus Felipe de Menezes Dias, Marcelo de Rezende Pinto, Georgiana Luna Batinga

Resumo


Este artigo busca discutir os resultados de uma pesquisa cujo objetivo foi analisar como a beleza e a autoaceitação da mulher negra são ressignificados na relação intergeracional entre mãe e filha, a partir do consumo de cosméticos afros. A revisão da literatura ressaltou a discussão sobre os estudos de família no campo do consumo, sobre influência intergeracional e as questões envolvendo raça e consumo. O estudo foi conduzido por meio de uma pesquisa qualitativa exploratória que entrevistou 14 mulheres autodeclaradas negras, com idades entre 23 e 55 anos, com escolaridades diversas, residentes em Belo Horizonte e consumidoras de cosméticos afros. Como método de análise dos relatos coletados nas entrevistas foi utilizada a Análise do Discurso Pecheutiana. Dessas análises, emergiram três principais categorias: “Ressignificando a beleza negra”, “Consumo intergeracional de cosméticos afros”, “A construção da autoaceitação na relação intergeracional mútua”. As análises permitiram identificar vários achados e um deles está relacionado ao conceito de beleza que, construída em uma abordagem intergeracional mútua, entre mãe e filha, serviu para mediar o processo de autoaceitação dessas mulheres, além de o fato de fomentar uma forma de resistência aos padrões impostos pela sociedade.


Palavras-chave


Consumo; Beleza; Raça; Família; Influência Intergeracional

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